Cântico da História (com uma pontinha de esperança)
A História é um silêncio doloroso
(dói ouvir o silêncio da História)
É um grito calado na garganta
É um espinho cravado fundo na palma de uma mão
É um ser acontecer entre mágoas e flores silvestres...
Procurai a dor nesta História
Demanda fácil, demasiado fácil
Basta olhar à volta
À nossa volta
(é à nossa volta que as coisas acontecem)
Hei-la, aqui está!
Aqui mesmo!
Sim!
Nesta criança
Dilacerada, conspurcada, aviltada...
Criança sangrada, criança sangrenta!
Procurai agora a miséria
Entre silvas e copos de cristal
(cheios de leite adoçado com mel)
Entre vielas e ventres dilatados
Entre corpos apodrecidos e deuses enegrecidos
São homens que olham ídolos
E à lama chamam barro
Com que lhes moldam os pés...
Procurai tristeza
Olhem os olhos
Vazios
Negros, da cor de um arco íris melancólico
Neles não vereis futuro
Nem passado
Apenas um presente...
(talvez o tempo presente da dor, da grande dor de não ser capaz)
Esta é a História, assim, bolorenta e bafienta
Quase sempre a preto e branco
(mesmo as borboletas fogem da História)
E os espinhos rasgam as carnes das gentes que a afrontam
Tece loas a demónios guerreiros
Carrega tempos ensandecidos, tempos roubados a qualquer memória
Tempos irados de templos quebrados onde gemem vozes enrouquecidas...
Procurai a História
É pó!
É sangue!
É esperança difamada!
(mas talvez um dia, entre o verde e o amarelo de uma giesta, adeje uma borboleta e um sorriso... talvez um dia...)
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