Há muito passei o Letes
Há muito passei o Letes, o rio do esquecimento…
Esqueci tudo, até o pensamento!
Prolonguei o fio da vida,
Fiz a minha morada num túmulo,
Em desamor criei…
Hoje acordo e não vejo…
Abro os olhos turvos, embaciados.
Uivo à lua como um lobo,
Com as minhas garras rasgo as entranhas
Desse ser que já fui…
Não penso, não sinto, não sei…
Mata-me a vida sem fim…
Escolho a cruz!
Quero a cruz!
Cravem-me esses cravos, rasguem-me a pele com esses espinhos, arranquem-me a carne com esse látego!!!
Ecce Homo!
Eis o Homem!
Eis-me Homem!
E no fundo da lenda, antevejo a criança que já fui…
Estralhaçada na boca da Memória…
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