Aos mestres
Querem um pensamento secreto?
Então tomem lá:
Um dos trabalhos que mais gostei de fazer, foi duas campanhas arqueológicas no Castelo de Noudar, em Barrancos, com o Cláudio Torres, um dos melhores arqueólogos portugueses, a dirigir. Mas para além da escavação, o trabalho implicava a reconstrução de duas casas e de uma igreja, com métodos tradicionais. Foi lá que conheci três mestres que ainda trabalhavam com as técnicas aprendidas dos seus pais e dos seus avós.
Na altura escrevi isto:
Aos mestres João, Caeiro e Manel da Cristina
Mãos nodosas, fortes, rudes,
Modelam o barro, transformam a pedra, empilham o tijolo.
Constróem...
Mãos...
É a inteligência ancestral dos velhos mestres que nos ensinam.
É a suprema singeleza dos homens rudes.
É o trabalho suado dos homens que levantam a torre com o que está no chão.
Os homens que transformam o esbelto xisto,
Na atarracada casa que nos abriga.
Os homens que da lama do chão,
Fazem um monumento.
Mestre, ensina-me a construir,
Tu que com as tuas mãos transformam a terra e afagas uma criança,
Tu, fazedor de coisas, monumento da vida,
És a ponte do passado aos sonhos do futuro!
26.11.1984
Não sei se algum destes mestres ainda está vivo, mas a sua memória permanece nas coisas feitas pelas suas mãos.
Desculpem, mas nestas possíveis vésperas de uma guerra, lembrei-me de quão importante é construir e de quão sujo é destruir...
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