Se Chegar a Velho

Se chegar a velho,
Usarei longas barbas brancas,
Terei um olhar melancólico.
Se chegar a velho,
Procurarei viver sem sobressaltos,
Destrinçando o passado do futuro.

Olharei a História, como quem olha para um fruto maduro,
Nunca foi tão doce, mas pouco falta para deixar de o ser,.

Se chegar a velho,
Quererei ser velho,
Parecerei um velho…
Se chegar a velho,
Serei lago, serei charco,
Nunca uma torrente, pois só as águas calmas beijam as margens com prazer…

Sugarei o sabor a mel das recordações, se chegar a velho,
E sereno, quero partir,
Repleto de vida, se chegar a velho…




João Castela Cravo
Amadora (Venteira), 19 de Outubro de 2005


(Para o Vítor MM Costa)

Entre as sombras e a luz

Entre as sombras e a luz,
Vagueio, em demanda de ti.
Abandono o meu corpo,
Sou fluído errante
(líquido que escorre por entre os dedos da tua sombra),
Sou matéria de sonho
(flama tremeluzente, por entre os escaninhos da memória),
Sou espírito mafarrico
(diabinho que brinca com os raios de luar, por entre os teus cabelos).

Entre as sombras e a luz,
Dou-te a mão,
Peço-te um afago,
Escrevo-te um poema,
Beijo a fímbria do teu vestido…

Entre as sombras e a luz,
Passeio…
Entre as sombras e a luz,
Procuro-te…
Entre as sombras e a luz,
Encontro-te…
Entre as sombras e a luz,
Encontro-me!


(Para a Sílvia Antunes)