quarta-feira, junho 22, 2005

Sou o Sol

Para que olhas tu para mim?
Nunca viste o Sol?

Sim!
Eu sou o Sol!
O meu sol!

Criei-me como um sol,
Criei um sol…
Porque me negaram o outro!
O que aquece e ilumina!

O meu sol não me aquece!
Arrepia-me,
Rasga-me a carne como um chicote de gelo…
Mas é o meu sol!
Eu sou o meu sol!

E este sol ninguém mo pode tirar.
Porque é um sonho!
É um sonho frio e escuro,
Mas é meu!

É MEU!

Talvez um dia tenha forças para sonhar outro sol!
Um sol quente,
Um sol que me afague,
Um sol como o sol dos outros…

Um dia… talvez um dia…

Um dia terei o direito de sonhar
Como todos os outros…

Um dia…


Amadora (Venteira), 10 de Junho de 2005


Ao Luís Zilhão

segunda-feira, junho 20, 2005

Duas Palavras

Escrever o quê?
Que procuro o sentir?
Sentir a vida murmurar,
Dizer em duas palavras
“Anda daí, vem…
Vem ver este mundo de cores e formas…
Vem ver este caminho
Entre muros enramados de heras e glícinias…
Com cheiro a jasmim…”
Mas a vida não é assim!
Pois não?
A vida nunca nos murmura…
Grita-nos!
VIVAM!
Só nós murmuramos,
Em duas palavras:
Cuidadoooo… cuidaaaadoooo…
Cuidado com a vida…


Amadora (Venteira), 20 de Junho de 2005



Ao Jorge ADN Costa
e ao Luís Costa (Lucaz)

domingo, junho 12, 2005

Trilogia da Velha Árvore

À Roberta Jardim


1 – O Abrigo

Sou uma árvore velha
De grossa casca, rugosa como o tempo
Sou abrigo de ave
Abrigo de sonhos
De pastores e amantes.
Em mim vivem fadas de mundos antigos,
Com asas de renda…
Asas tecidas por Deusas com rostos de jade!
Em mim, quem quiser descansa,
Basta entrar…
Com carinho,
Basta entrar…


2 – O Mundo


Sou uma árvore velha
De grossa casca, rugosa como o tempo
Sou da idade do Mundo,
Sou o Mundo!
Um mundo suave
Um mundo em que as mãos das fadas antigas acariciam!
Gosto de carícias,
Gosto de afagos,
Gosto de deusas antigas com rostos de jade,
Que com fios de prata bordam asas das fadas
Que adejam por cima dos amantes,
Nas tardes de maior calor…



3 – O Tempo


Sou uma árvore velha
De grossa casca, rugosa como o tempo
Sou o Tempo!
O Tempo das fadas antigas
Que, como a ave que faz o ninho
Esculpem em jade, rostos de Deusas.
Sou o tempo de um Mundo antigo.
Sou o abrigo do mundo
Afago sonhos,
Pastores,
Amantes…
Sou o sonho de alguém
No tempo…
Sou o sonho do tempo
E do amor…


Amadora (Venteira), 7 de Junho de 2005

sexta-feira, junho 10, 2005

A Fábula da Cinderela Urbana – Uma História sem Moral

A Cinderela sonhava
Vir um dia a ser Cinderela
O príncipe sonhava
Vir um dia a ser príncipe

Ambos sonhavam
Casar!
Ela de branco, ele de fraque
Ambos sonhavam
Ter carro, vermelho da cor do rubi,
Casa em Massamá
Três elevadores,
Aspirador na parede
(para limpar o pó ao fraque)

Ambos sonhavam
Férias em Benidorm e Porto Galinhas
Farras no Algarve
Idas a Fátima
(para limpar o pó à alma)

Cinderela conheceu o príncipe
Numa sapataria!
Beijaram-se
E acordaram de um sonho lindo!

Faz já muito tempo
Que o aspirador está avariado
(aspira-lhes as almas…)

“Talvez um sapo, talvez um sapo…”

Pobre Cinderela, essa é outra fábula,
Nem sapo, nem cavaleiro de brilhante armadura!

Só a casa em Massamá
Com três elevadores
E o carro cor de rubi…

Cinderela
Conheceu o príncipe numa sapataria…
Beijaram-se e um dia casaram:
Ela de branco, ele de fraque!
(Hoje, o carro cor de rubi, foi substituído por outro, cinzento metálico, tecto de abrir automático, jantes especiais, airbags, sistema de som o mais moderno possível… lindo, lindo, lindo…)

E viveram felizes para sempre!



Amadora (Venteira), 9 de Junho de 2005

quinta-feira, junho 09, 2005

Não me obriguem

Não me obriguem a cantar
Loas
A um céu moribundo!
Não me obriguem a viver
De cabeça baixa
E pescoço torcido!
Não me obriguem a olhar
Um sol
Feito de plástico colorido
Que os capachos sejam de sisal ou esparto
E não
De sangue e sentidos…
Que os sentimentos sejam os nossos
Mesmo que doam,
Mesmo que sangrem,
Por causa dos espinhos!


Amadora (Venteira), 9 de Junho de 2005


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