domingo, novembro 06, 2005

Um dia...

Um dia, hei-de arranjar uma escada só para mim…
Degraus de pórfiro, sob uma chuva de jasmim.
Um dia, hei-de arranjar uma escada,
Para, nas noites de prata,
Alcançar a raiz, do que pensas de mim…


Amadora (Venteira), 24 de Outubro de 2005

Eia!

Eia, eia, eia!

Eia, eia, eia,
Que sou ginete a galope!
Eia, eia, eia,
Vou correndo, vou voando,
Cavalgo para lá das brumas da memória,
Tropeçando, nunca parando!
Eia, eia, eia,
Corro a vida, vou vivendo,
Para lá da morte, é o meu destino.
Eia, eia, eia,
Vou veloz, vou com o vento,
Eia, eia, eia,
Eia, eia, eia,
Chispam as rochas do caminho,
Ferram-me espinhos nos roseirais,
Eia!
Tenho pouco tempo…
Eia, eia…
Tenho pouco tempo…


Amadora (Venteira), 24.10.2005

À Cláudia Azedo

Já fui Tição Enegrecido

Já fui tição enegrecido
Hoje sou desejo incandescente
(embebi-me no teu olhar, e a uma faísca de um sorriso deixei-me imolar em ti)

Afago o teu corpo como quem ouve uma melodia.
De olhos fechados,
O meu peito ressoa,
Sons…
Duas rolas arrulham aos meus ouvidos,
És música!

Cerro os olhos e vejo o teu corpo de mulher
Cor de mel…
Sabe a mel!

Secretamente arranho-te, devagar, tão devagar,
Secreta melodia, secreta melopeia…

Já fui tição enegrecido
Hoje sou desejo incandescente
(embebi-me no teu ouvir, e a uma faísca de um silêncio deixei-me imolar em ti…)

No teu corpo ardo…


Ao António e à Margarida
Aos amigos!


João Castela Cravo
5 de Novembro de 2005

A Sagração do Tempo

É o tempo a única medida perfeita,
Pois por natureza estará sempre completo…
E entre os homens e os deuses, mesmo aprisionado,
É o tempo a única constante!

Sagra-se o tempo, sagram-se os tempos.
Sagra-se o tempo do renascer,
Sagra-se o tempo de colher,
Cronos, que come os filhos,
Cronos que os regurgita para os homens…

E da primavera dos tempos
A um passo está o Outono
O principio e o principio do fim,
Tudo medido pelo tempo
Que em si mesmo
É do homem, medida finita, do razoável e do absoluto,
Da vida e da morte,
Da perfeição do infinito, da divindade,
E da proporção da natureza.

(Imagino-o escrito, por um tal de Luca Cronax, mas poderia ter tido outro nome, discípulo inventado de um quase divino, o Grande Alessandro di Mariano Filipepi, il “Sandro Botticelli”.)



Amadora (Venteira), 23 de Outubro de 2005


À Olga Gouveia


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